Morre o escritor e psicanalista Contardo Calligaris

Morreu nesta terça-feira (dia 30), em São Paulo, o escritor e psicanalista italiano Contardo Calligaris, de 72 anos. Radicado no Brasil, Calligaris estava internado no Hospital Albert Einstein, na capital paulista, onde tratava um câncer. A informação de sua morte foi confirmada pelo filho, Max Calligaris, em postagem no Instagram. “’Espero estar à altura‘. Diante da proximidade da morte, essa foi a frase do meu pai. Ele se foi agora”, escreveu Max em sua rede social.

Contardo Calligaris foi doutor em psicologia clínica, pela Universidade de Provence, e iniciou seus estudos nas áreas das letras e da filosofia. Em 1975 foi aceito como membro da Escola Freudiana de Paris, onde morou até 1989. Lecionou na Universidade Paris 8 e teve aulas com os filósofos franceses Roland Barthes e Michel Foucault, além de acompanhar os seminários ministrados pelo psicanalista francês Jacques Lacan, uma grande influência em sua formação.

Em 1985, veio ao Brasil para o lançamento de seu primeiro livro de psicanálise, Hipótese sobre o fantasma. Posteriormente, acabou fixando residência no país. Suas reflexões se concentram na condição humana da sociedade marcada pela obrigatoriedade da felicidade, do gozo, da beleza e dos excessos. Estudioso das questões da adolescência, considerava esta a etapa da vida que possui uma intensa carga cultural e que se caracteriza como uma das mais potentes fontes de energia da atualidade. A adolescência é um dos seus livros mais lidos e estudados.

Atender nos seus consultórios em São Paulo e Nova York, era colunista da Folha de S. Paulo. Sua última coluna foi publicada me 17 de fevereiro e tratava sobre o fim do governo ex-presidente americano Trump. Contardo publicou mais de 10 livros, incluindo dois romances e uma peça teatral. Criou a série de televisão intitulada Psi, exibida no canal a cabo HBO. Foi professor de estudos culturais na New School de Nova York e professor convidado de antropologia médica na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Também fez parte do corpo docente do Institute for the Study of Violence, em Boston.

Em outubro de 2015 esteve em Salvador, encerando a edição daquele ano do projeto Fronteiras do Pensamento. Sua conferência teve ingressos esgotados semanas antes e lotou a sala principal do Teatro Castro Alves. Na época, Calligaris declarou: “Esperamos que o outro seja a cura dos nosso males quando, na verdade, será a quem vamos acusar de não estarmos felizes, de não ser o que poderíamos ou queríamos ser”.