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Jornal Nacional
O corre-corre do Jornal Nacional

Há 33 anos o telejornal mais antigo do Brasil só vai ao ar à noite, mas mobiliza uma equipe de jornalistas desde as 10 da manhã*

Jornal Nacional

Diariamente, mais de 40 milhões de pessoas param para assistir ao Jornal Nacional, isso virou um hábito do brasileiro. Mas o que poucos imaginam é que, para o noticiário chegar à casa do telespectador às 20h15, editores, produtores e repórteres chegam à Central Globo de Jornalismo, no Jardim Botânico, no Rio, às 9h45. “Chego cedo para me inteirar dos assuntos. Mas o Jornal Nacional começa mesmo às 10h30, com a primeira reunião de pauta, que vai discutir os principais assuntos do dia”, diz William Bonner, editor-chefe e âncora da atração desde 1996.

Ao contrário do marido, com quem divide a apresentação do jornal, Fátima Bernardes só chega à redação no início da tarde. Tudo para poder passar a manhã com os trigêmeos Laura, Vinícius e Beatriz, de 4 anos. “Meu dia é corrido, mas tento ficar com as crianças o máximo que posso”, justifica ela, já no ritmo do trabalho.

No ar desde o dia 1º de setembro de 1969, o jornalístico foi o primeiro programa da televisão brasileira a ser transmitido em rede para todo o país. Desde então, muita coisa mudou. O cenário, a abertura e os apresentadores. Mas Bonner garante que o principal compromisso de sua equipe é fazer um jornalismo com respeito. “A minha maior preocupação é fazer um jornal agradável, com notícias leves, porém, muito informativo”, garante.

Segundo o editor-chefe, o principal inimigo de sua equipe é o tempo. Tanto que Fátima e William mal conseguem conversar. “Quarta-feira costuma ser um dia difícil. Tenho apenas 23 minutos de jornal, por causa do futebol e do número de anúncios. É muito pouco. É como colocar um elefante dentro de uma caixinha bem pequena”, brinca ele.

Quem assiste aos dois narrando as notícias calmamente não tem idéia da tensão que predomina nos bastidores. “Tudo pode acontecer. Enquanto o jornal está no ar, todos ficam atentos para qualquer notícia de última hora”, diz Bonner. “Na verdade, a tensão só acaba mesmo quando damos o tradicional boa noite”, afirma ele, que não apresenta o jornal de bermuda como imagina a maioria das pessoas.

10h30 – Na primeira reunião de pauta, Bonner comunica quanto tempo o telejornal terá no dia. Em seguida, entra em contato com os escritórios de Nova York, Londres, Brasília, São Paulo e Belo Horizonte para saber o que eles têm de notícias do país e do mundo.

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11h45 – Depois de listar os assuntos e o tempo de duração das matérias, William organiza no computador o “espelho” do jornal, que diz o que irá ao ar.

Jornal Nacional14h25 – Segunda reunião de pauta, dessa vez já com Fátima Bernardes presente. Eles atualizam o que entrou ou não no telejornal. Enquanto isso, repórteres em todo o Brasil estão preparando suas reportagens.

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16h20 – Fátima vai para a sala de maquiagem. Durante 45 minutos, é maquiada e penteada por Ronald Pereira. Enquanto se prepara, ela acompanha o noticiário da Globo News.

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17h05 – Maquiada, Fátima Bernardes vai para sua mesa e checa as últimas notícias pela internet para ver se algo interessa para o jornal.

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17h30 – A editora Cristina Souza Cruz edita e seleciona as principais notícias vindas das agências internacionais.

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17h45 – Última reunião antes de o JN ir ao ar. Os produtores do Rio, onde o jornal é gravado, recebem informações das matérias produzidas em outros estados. Tudo é repassado para o editor-chefe, William Bonner, e para o editor-executivo, Renato Ribeiro.
 
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17h55 – William Bonner e Renato Ribeiro fazem uma pausa para o cafezinho.

18h – Fátima faz a primeira chamada com assuntos a serem apresentados. A segunda entra no ar às 19h20 e a terceira às 189h50. A bancada do jornal possui computador e telefone para se comunicarem com a redação na hora do intervalo.

20h – É hora de gravar a escalada, aquele resumo eu aparece no início do jornal de cada assunto que irá ao ar logo mais.

Jornal Nacional20h15 – O JN entra no ar, ao vivo. Por trás das câmeras, dez operadores não podem falhar. Na sala de controle, 14 técnicos se ocupam do som e das legendas, além de ficarem atentos para uma notícia de última hora.

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*Matéria publicada na edição de número 1388, da revista “Contigo!”, em 23 de abril de 2002.
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A luz de várias lâmpadas esquenta o lugar, o pessoal da técnica avisa sobre uma mudança de no roteiro do programa. Mudou também a marcação das câmeras, o entrevistado ainda não chegou e o tempo do programa está estourado. Em suma, a confusão não é pouca. Da bancada de apresentação, é preciso dar um sorriso tranqüilo, dizer “boa noite” e começar mais um telejornal.

Tudo bem. Nem todo dia acontecem tantos imprevistos de uma só vez, mesmo assim, vida de apresentador não é moleza. Como acumulam a função de repórter ou editor com a de apresentador, esses profissionais são obrigados a alternar estados de ânimo. Num momento têm de ser ágeis, precisos na apuração da informação. Em outro, têm que estar calmos e seguros, para, a sempre cheia de imprevistos, apresentação do programa. E há ainda a questão da aparência.

Quem vê Kátia Guzzo apresentando o BA-TV na tranqüilidade, não imagina que ela passou a tarde num corre-corre danado, escrevendo notas, apurando informações e organizando as entradas do Bahia Agora. “Eu já saio de casa com uma maquiagem mais leve, para apresentar os fleshes. Na hora do jornal, reforço com uma mais adequada às luzes do estúdio”. Por conta do trabalho Kátia não toma sol: “a pele bronzeada brilha mais. Fica mais oleosa, dificultando a aderência da maquiagem. Além disso, sol faz mal a saúde”, explica.

Quem também se preocupa com o sol é Adriana Nogueira que, além de fazer reportagens, ainda tem que estar prontinha para a apresentação do Band Cidade, a cada começo de noite. “Adoro praia, mas hoje em dia, sempre que vou coloco um bonê e filtro solar”. Por causa da maquiagem pesada Adriana conta que, ao contrário das outras garotas, prefere sair de casa de cara limpa “com rosto lavado, sem maquiagem, já que, à noite, vou receber uma carga de cosméticos”.

A preocupação com o rosto é explicável. Enquadrados sempre em plano fechado, os apresentadores têm motivos de sobra para redobrar os cuidados com o rosto. “Na apresentação da reportagem, só conto com a expressão do meu rosto e a entonação da minha voz”, explica Adriana. Quem já se deu mal com tantos cuidados com a aparência foi Marcos Murilo, repórter e apresentador do Aratu Notícias. De tanto fazer a barba diariamente, uma irritação na pele encravou um fio da barba, resultado a região infeccionou e ele acabou no Hospital Aliança por vários dias.

Kátia e Adriana optaram por usar cabelos curtos. “na bancada, qualquer fio de cabelo fora do lugar chama atenção e distrai o telespectador, o que não pode acontecer”, explica Kátia. Jóias devem ser discretas, roupas estampadas e com listras nem pensar (as listras finas viram cobrinhas animadíssimas e aí, adeus atenção ao que está sendo dito). O mínimo gesto e cada detalhe da roupa são pensados. Tudo deve ser sóbrio, ainda que descontraído, evitando que o telespectador preste mais atenção ao apresentador do que à notícia.

Há, ainda, a questão dos erros. Gaguejar ou pronunciar uma palavra errada, denota insegurança, portanto a habilidade de locução é necessária para ler sem errar, tem que ser articulada com a capacidade de improvisação. “Às vezes o roteiro muda e uma reportagem que iria entrar no terceiro bloco, entra no primeiro. É preciso mudar as páginas e as chamadas para o comercial”, diz Marcos Murilo. Nesse momento é preciso estar atento à nova seqüência de chamada das reportagens. “sempre antes de começar a apresentação, me preparo fazendo uma oração. Respiro fundo, procuro relaxar. Para que a apresentação ganhe em credibilidade”, revela.

“Tenho que ficar calma, para passar bem a informação, com espontaneidade”, completa Adriana. “Por ter um tempo muito curto, o BA-TV permite, no máximo, expressões de olhar. É preciso muita habilidade para fazer a locução sem errar”, arremata Kátia.

 

*Reportagem publicada originalmente no Revista da TV, do jornal A TARDE, em 1° de julho de 2001.