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Lipovetsky e Karnal debatem cidadania e política no Fronteiras Braskem do Pensamento

“A essência da democracia é o reconhecimento ao contraditório. Não há opção à democracia” e “os dirigentes políticos vivem numa bolha, separados da população”. Essas foram algumas das afirmações feitas, respectivamente, pelo historiador e escritor brasileiro Leandro Karnal e pelo filósofo francês Gilles Lipovetsky, durante debate especial do Fronteiras Braskem do PensamentoO evento, que foi aberto pelo violonista flamenco Paulo Victor, lotou o Teatro Castro Alves, na noite dessa segunda-feira (17), em Salvador.

O debate mediado por Fernando Schuler, curador do Fronteiras e doutor em Filosofia Política, foi aberto por Lipovetsky, que abordou o tema Cidadania política, pluralismo e democracia na era hipermoderna, e explicou esse novo conceito. “A hipermodernidade trata-se da chegada de um novo tipo de individualismo e está presente nas famílias, redes sociais, religião, política e espaços públicos”, disse o francês. Ele afirmou, ainda, que vivemos atualmente “uma cidadania a la carte”, que vai de acordo com o menu que a pessoa escolhe de última hora.

“Uma das consequências políticas dessa nova cultura são os votos de rejeição, em detrimento ao voto de adesão a um partido político. Hoje as pessoas votam para se livrar de um governo”. Quando perguntado sobre o que achava do presidente norte-americano Donald Trump e do francês Emmanuel Macron, Lipovetsky sentenciou: “o Donald Trump não honra o sonho americano, já Macron é um filósofo, um homem de medidas. Os dois são exemplos da hipermodernidade atual”.

Já Leandro Karnal intitulou sua participação como Hamlet na casa de noz: cidadania e consciência. Um dos mais populares intelectuais do Brasil explanou que durante muitos anos a felicidade foi centrada na posse, como já enaltecia o escritor inglês William Shakespeare (1564-1616), em seu célebre romance. O doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), Karnal arrancou risos da plateia ao falar sobre a bipolaridade política que vivemos atualmente no Brasil. “Uma parte muito expressiva do país teme que a outra parte consiga degenerar a democracia e as duas profetizam que se o pecado da outra vencer, será o fim do país. Provavelmente ambas as partes estejam corretas”, ironizou Karnal. Para ele “devemos atribuir o sucesso dos livros de autoajuda ao declínio da política brasileira como felicidade”.

Fake News e movimentos indenitários

Autor de livros que já foram traduzidos para mais de 18 idiomas, como os best-sellers como O império do efêmero – A moda e seu destino nas sociedades modernasA era do vazio – Ensaios sobre o individualismo contemporâneo, Gilles Lipovetsky falou que “as pessoas preferem acreditar no que é dito pelos amigos nas redes sociais do que pela mídia, o que acaba gerando as chamadas Fake News”. Seguindo com o mesmo conceito, Karnal ressaltou que a acessibilidade da Internet “tornou milhares de pessoas intelectuais somente ao abrirem uma conta”.

Sobre os movimentos identitários, Gilles acredita que a questão virou um tema central nas sociedades atuais. “A fragmentação pode se tornar um problema no futuro das sociedades, se cada coletividade viver fechada dentro da sua coletividade. Temos de aceitar o multiculturalismo, mas sem que os indivíduos percam suas características de comunitarismo. O direito de o indivíduo ter suas singularidades”, observa. Para o filósofo francês, que esteve pela primeira vez em Salvador, “a educação não é um luxo, mas um investimento para o futuro”. Segundo ele, “nada substitui uma cabeça bem-feita, e uma cabeça bem-feita começa na escola”, concluiu.

No próximo dia 15 de outubro, o físico e escritor carioca Marcelo Gleiser encerra a temporada 2018 do projeto, que tem como tema central O mundo em desacordo. O Fronteiras Braskem do Pensamento Salvador tem o patrocínio da Braskem e do Estado da Bahia, com realização da Caderno 2 Produções Artísticas. Os ingressos para a conferência estão à venda nas bilheterias do Teatro Castro Alves, nos SACs dos shoppings Barra e Bela Vista ou pelo site www.ingressorapido.com.br. O ingresso individual custa R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia).

Livraria LDM lança livro sobre historiografia dos sertões da Bahia
Livraria LDM lança livro sobre historiografia dos sertões da Bahia

A história das histórias dos sertões da Bahia é o tema do livro Crônica, memória e história: formação historiográfica dos sertões da Bahia, do pesquisador e historiador Erivaldo Fagundes Neves. A publicação será lançada na Livraria LDM, do Shopping Paseo, em Salvador, no próximo sábado (dia 25), das 17 às 20h.

A obra aborda, de forma global, a historiografia dos sertões baianos, disposta cronologicamente, desde as crônicas coloniais aos contemporâneos recortes temáticos resultados da fragmentada desconstrução epistemológica da “crise de paradigmas”. Também focaliza essa historiografia baiana sobre os sertões de modo a alcançar os diversos rincões sertanejos em suas comunidades, municipalidades e regionalidades.

“O livro constitui um painel do que se pensou, se verbalizou e se registrou sobre a construção de territórios, as formações sociais, as atividades econômicas, as evoluções políticas e as manifestações culturais desses agrupamentos humanos dispersos entre serras, planaltos e baixios, articulados no pertencimento espacial de baianidade”, declara Erivaldo Fagundes Neves.

O autor tornou-se um dos pioneiros no registro histórico de pequenas comunidades, amparando-se em farta documentação existente no Arquivo Público da Bahia. Seus trabalhos vêm influenciando a moderna historiografia, não apenas no Brasil como no exterior. Atualmente, leciona na Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia, instituição onde foi vice-reitor por uma gestão. Em 2004, tomou posse como Acadêmico Correspondente na Academia de Letras, em sua terra natal, o município de Caetité.
 
Serviço:

O quê: Lançamento do livro Crônica, memória e história: formação historiográfica dos sertões da Bahia, de Erivaldo Fagundes Neves.

Quando: sábado, dia 25/11, das 17 às 20h

Onde: Livraria LDM do Shopping Paseo (Rua Rubens Guelli, 135, Itaigara).