Museu da Língua Portuguesa reabre após incêndio com exposição Língua Solta
Como imortalizou Cazuza, “eu vejo um museu de grandes novidades”. Assim promete ser o Museu da Língua Portuguesa, que reabre ao público neste sábado (dia 31), com a exposição temporária Língua Solta. Localizado no prédio da Estação da Luz, na região central de São Paulo, a edificação histórica teve dois andares destruídos num incêndio ocorrido em 2015. A mostra temporária, que tem curadoria de Fabiana Moraes e Moacir dos Anjos, revela a língua portuguesa em seus amplos e diversos desdobramentos na arte e no cotidiano.
“A língua é solta porque perturba os consensos que ancoram as relações de sociabilidade dominantes, tanto na vida privada quanto na pública. Incorporada em imagens e objetos diversos, ela sugere outros entendimentos possíveis do mundo. E tece, assim, uma política que é sua”, diz Moacir dos Anjos. ”A exposição traz uma série de obras, entre obras de arte contemporâneas e também de arte popular, que dialogam entre si e que se unem a questão da língua portuguesa. São mais de 100 obras de artistas, desde o entendimento de cultura popular, a chamada ‘cultura de massa’, como por exemplo, os memes do ‘Saquinho de Lixo’, dialogando com obras do artista plástico Arthur Bispo do Rosário. Temos nomes mais celebrados e nomes menos conhecidos, como da escritora Maria de Lourdes, de Caruaru, que produz seus livros”, explica a curadora Fabiana Moraes.
Ao todo, 180 peças compõem a exposição, em cartaz no primeiro andar do museu até 3 de outubro de 2021. Logo no início, uma das pontas de entrada na sala exibe Eu preciso de palavras escritas, manto bordado por Arthur Bispo do Rosário e, na outra, quatro estandartes de maracatu rural, trazidos de Pernambuco para a mostra. Atrás dos estandartes, uma parede exibe a projeção de memes do coletivo Saquinho de Lixo e, na parede oposta, o mural Zé Carioca e amigos (Como almoçar de graça), de Rivane Neuenschwander. A exposição apresenta cartazes de rua, cordéis, brinquedos, revestimento de muros e rótulos de cachaça se misturam em todo o espaço às obras de Mira Schendel, Leonilson, Rosângela Rennó, Jac Leirner, Emmanuel Nassar, Elida Tessler e Jonathas de Andrade, dentre outros artistas contemporâneos.
Ambientes imersivos e audiovisuais
Um dos primeiros museus totalmente dedicados a um idioma no mundo, o Museu da Língua Portuguesa promove um mergulho na história e na diversidade do idioma através de experiências interativas, conteúdo audiovisual e ambientes imersivos. “Temos uma nova camada de informações, vídeos e vozes em toda a exposição de longa duração, exposição principal. Trazendo todas as atualizações de todas as funções contemporâneas da língua portuguesa, não só no Brasil, mas também em outros países falantes de língua portuguesa, com novos acadêmicos, mas também com representantes da cultura brasileira que tem uma contribuição fundamental, como Ailton Krenak, Mano Brown, Moacyr dos Anjos, que também é curador da exposição temporária”, destaca Marília Bonas, diretora Técnica do Museu da Língua Portuguesa.
Em sua renovada exposição de longa duração, que ocupa o segundo e terceiro andares do edifício, o Museu vai apresentar experiências inéditas, como Falares, que traz os diferentes sotaques e expressões do Brasil; e Nós da Língua Portuguesa, que aborda a diversidade cultural da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). E serão mantidas as principais experiências que marcaram os quase 10 anos de funcionamento do Museu (2006 a 2015) – como a Praça da Língua, espécie de ‘planetário do idioma’, que homenageia a língua portuguesa escrita, falada e cantada em um espetáculo de som e luz. “O Museu da Língua Portuguesa é um espaço muito conectado com as questões contemporâneas, com os debates e as disputas da língua. É o museu que reabre marcado pelo Black Lives Matter, marcado pela pandemia, pelo isolamento social, por novas relações da própria posição dos museus junto a sociedade”, afirma a gestora.
A diretora Técnica do Museu da Língua Portuguesa ressalta ainda o caráter mutável da instituição, assim como a própria língua portuguesa. “O Museu da Língua Portuguesa se pensa como um museu responsivo às urgências contemporâneas e comprometido com a questão da luta pelos direitos humanos, da luta pela diversidade, anti-racista, e trazendo em sua programação digital muitos debates, como a questão, por exemplo, do gênero neutro, do gênero não binário”, enumera.
“A gente entende que o Museu tem um papel especialmente central no debate sobre a língua portuguesa falada no Brasil e em países africanos que falam a língua portuguesa que estão muito próximos de dinâmicas de colonização como a nossa e também falar das heranças sem só celebrar, mas também pensando nas construções, nas violências e nas resistências que a gente traz nessa língua portuguesa que a gente fala”, conclui Marília Bonas, diretora técnica do Museu da Língua Portuguesa, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.
Show de Negra Li
Para marcar esse momento de reabertura do Museu da Língua Portuguesa, a cantora Negra Li fará um show inédito para convidados neste sábado (dia 12), às 14h. O show Comando, que faz parte do projeto #CulturaEmCasa pertencente a plataforma de stream da Secretaria de Cultura de São Paulo e seguirá todas as normas sanitárias da Organização Mundial da Saúde (OMS). O show ficará disponível no site https://culturaemcasa.com.br, onde também poderá ser acompanhado ao vivo.
Ouça no podcast Destaques de Semana, desta sexta-feira (dia 30/07), entrevista com a curadora da exposição Língua Solta, Fabiana Moraes, com Marília Bonas, diretora Técnica do Museu da Língua Portuguesa.