Dramaturgo Paulo Atto lança livro sobre censura ao teatro em 1980

O dramaturgo Paulo Atto lança nesta quarta-feira (dia 14), o livro Atto em 3 Atos & Memórias da Censura. A publicação da Editora do Teatro Popular de Ilhéus, será lançada, de forma virtual, às 19h, no canal do YouTube do Festival de Teatro da Caatinga. Em um vídeo especialmente criado para o momento, o autor irá falar sobre sua obra, formada pela trilogia de textos teatrais nos anos 1980: A Confissão, As Máquinas ou A Tragédia em Desenvolvimento e Até Delirar / O Banquete. O livro é uma espécie de inventário emotivo, histórico, dramatúrgico e artístico do período em que um grupo de atores e artistas vivenciaram a sua produção na Bahia.

“A escolha desses textos para o livro é justamente porque, por coincidência, eles são todos da década de 1980 e acontecem nesse período de transição democrática, onde a gente tem a presença e o aparato da censura. Nós tínhamos de submeter os textos de teatro a um departamento da Polícia Federal, que era a Divisão de Censura de Diversões Públicas, onde primeiro eram analisados, geralmente se levava três semanas, depois emitido um certificado de censura”, explica o dramaturgo, que apresenta alguns desses documentos no livro. “Esses textos também trazem em uma certa constância de temas como: enfrentamento, liberdade, direito ao sonho, ao delírio, a livre expressão e ao poder, sobretudo em A Confissão. Por isso, a razão desse livro ser essa trilogia da minha origem como dramaturgo, como diretor de teatro”, ressalta Paulo.

Em suas 298 páginas, a obra recorre à trilogia inicial do autor – que completa em 2021 exatos 38 anos de carreira – para recuperar e contribuir com a história do teatro de grupo na Bahia, num período que, embora em processo lento e gradual de abertura, o teatro enfrentava a censura, que em alguns momentos chegou a ser branda, mas que criava um permanente conflito dos criadores e grupos com os censores. No livro, Paulo relata um episódio em Recife (PE), em que os censores não queriam aceitar o certificado de censura da Bahia. “Eles queriam ver o espetáculo, mas chegaríamos num sábado e eles não tinham censores que trabalhassem nesse dia para ir assistir. E, apesar da gente já tem um certificado de censura da Bahia, decidiram que não iam permitir apresentação do espetáculo sem ser novamente avaliado. Foi uma situação muito complicada”, desabafa.

Além dos textos, o livro apresenta as matérias publicadas na imprensa sobre as montagens, fotos dos espetáculos, relatos do próprio autor sobre as condições de produção, processos criativos e contexto da época. Fazem parte ainda do volume uma apresentação sobre cada montagem e uma espécie de “memorial afetivo” – como o próprio dramaturgo define, composto de bilhetes deixados pelos autores, histórias de bastidores, anotações de cena, fac-símiles dos programas, cartazes, convites, folhetos e panfletos, anotações da direção, pequenas histórias, cartas, observações sobre ensaios. Na obra estão descritas, ainda, as relações do dramaturgo com o grupo Artes & Manhas do diretor Paulo Cunha, em seus processos criativos de escrita e montagem e por outro lado, o autor apresenta uma série de fatos decorrentes da conturbada relação que vivenciou com os censores e o aparato da censura no período.

“Da década de 80 para cá, a obra artística de Paulo Atto vem se desenvolvendo numa escala ascendente, crescendo em complexidade estrutural e temática, ele sempre inventando voos. Na fornada da última década, vale destacar A Conferência (2013), escrita a partir do livro As Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino, e Teatro La independência (2018), ambas reconhecidas e indicadas ao Prêmio Braskem de Teatro de Melhor Texto. Justos reconhecimentos a quem vem na contracorrente da massificação, em busca de um teatro pleno de inquietações, que recusa o apelo fácil, e se impõe como marca de atitude e presença no mundo“, afirma o dramaturgo Luiz Marfuz, no prefácio do livro.

Lançamento e debate sobre a censura às artes cênicas

Para o lançamento o livro Atto em 3 Atos & Memórias da Censura, nesta quarta-feira (dia 14), foram gravados em vídeo depoimentos e interpretação de trechos do livro por atores e atrizes consagrados que participaram das montagens como Hebe Alves, Frank Menezes, Andrea Elia, Selma Santos, Hamilton Lima e Rafael Magalhães. Foram também especialmente convidados a atriz Claudia di Moura e o ator Ricardo Castro, que não atuaram nas montagens, mas que eram profissionais que Paulo Atto desejava ver interpretando seus textos. Os jovens atores de Irecê, Marcos de Assis e Mozar Nunes, do Núcleo Caatinga da Cia Avatar também interpretarão textos do livro.

Já no dia 21 de julho, às 19h, será transmitido um debate, também através do YouTube do Festival de Teatro da Caatinga, sobre teatro e censura, tendo como eixo o contexto do livro Atto em 3 Atos & Memórias da Censura. Participam do debate o diretor, professor e dramaturgo Luiz Marfuz e o próprio autor do livro, Paulo Atto. O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultural do Ministério do Turismo, Governo Federal.

Serviço:

O quê: Lançamento do livro Atto em 3 Atos & Memórias da Censura

Quando: quarta-feira, dia 14 de julho, às 19h

Onde: no canal do YouTube do Festival de Teatro da Caatinga

Dramaturgo Paulo Atto lança livro sobre censura ao teatro em 1980
Capa do livro (Imagem: Reprodução)

Ouça no episódio #05 do podcast Destaques da Semana, a entrevista com o dramaturgo Paulo Atto fala sobre seu livro Atto em 3 Atos & Memórias da Censura