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Fronteiras Braskem do Pensamento traz a Salvador Valter Hugo Mãe
Fronteiras Braskem do Pensamento traz a Salvador Valter Hugo Mãe

“De fato, me interessa pouco um livro que seja muito inteligente e aborrecido. Gosto da dimensão encantatória do texto, entendo o livro como algo mudador”, afirma o autor de o nosso reino, o remorso de baltazar serapião, o apocalipse dos trabalhadores e a máquina de fazer espanhóis, série de obras conhecida como a tetralogia das minúsculas, por ser escrita sem letras capitais. De personalidade carismática, sensibilidade ímpar e talento eclético, Valter Hugo Mãe foi reconhecido por seu conterrâneo José Saramago como um “tsunami literário” já na publicação de seu segundo romance.

Um dos autores de sua geração mais lidos em Portugal, Mãe se identifica com uma literatura que vai além do público médio e possui uma função na vida humana. “A literatura serve para alguma coisa. A poesia é, inclusive, terapêutica. Tudo deve ser escrito com a esperança de que o público atinja uma espécie de sabedoria, um outro tipo de inteligência emocional”, afirma. E completa: “O indivíduo só é tão importante como a pedra. Por isso, estou convicto de que só existimos pelos outros e com os outros, e a vida só nos recompensa verdadeiramente quando sabemos chegar a quem amamos”. Valter Hugo Mãe estará no palco do Fronteiras Braskem do Pensamento em Salvador, no dia 5 de setembro, às 20h30. A conferência acontece no Teatro Castro Alves. Informações no site www.fronteiras.com/salvador ou pelo fone 4020-2050. Ingressos à venda a partir desta segunda-feira, vagas limitadas.

Licenciado em Direito e pós-graduado em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea, Valter Hugo Lemos nasceu em Saurimo, Angola. Filho de portugueses, sua família retornou a Portugal antes de seus cinco anos. Passou a infância em Paços de Ferreira e, em 1980, mudou-se para Vila do Conde, onde vive até hoje. Desde criança se reconhece como um colecionador de palavras – e só foi convencido por sua mãe a frequentar a escola depois que ela lhe disse que estudar seria a melhor forma de “guardar as coisas na cabeça”. Adotou o pseudônimo “mãe” – que inicialmente escrevia também em minúsculas – por considerar a palavra repleta de um sentido de completude, do extremo da humanidade. “É um tipo de amor que não gastamos de outra forma a não ser que tenhamos um filho. É como haver um desperdício de nós mesmos”, reflete. Já o apreço pelas minúsculas é explicado por estas aludirem “a uma democracia das palavras”, comenta o escritor, que afirma ser o uso de letras maiúsculas algo inoperante na língua. “Não pensamos com muita sinalética. É uma utopia pensar que o texto escrito possa chegar perto da selvageria que representa o discurso do pensamento, mas é um desafio que me interessou viver. Depois, mudei para as maiúsculas pela oportunidade de fazer algo diferente após a tetralogia, e também porque era muito redutor ser reconhecido como o cara que escreve tudo em minúsculas”, reclama.

Entre as diversas láureas recebidas, destaca-se a conquista do Prêmio José Saramago por o remorso de baltazar serapião, em 2007, e o Prêmio Portugal Telecom, em 2012, por a máquina de fazer espanhóis. Suas obras se destacam pela variedade dos meios de expressão e de temática, que podem falar dos pequenos detalhes do cotidiano, dos problemas contemporâneos enfrentados por países como Portugal ou das paisagens da Islândia, combinando uma prosa apurada com histórias marcadas pela emoção. “Eu sempre fui convencido de que morreria cedo e tive várias datas-limite: os 18 anos, os 33 e os 40. Agora, acho que vou ser eterno”, brinca o escritor, ao explicar que a crescente idade das personagens principais de seus quatro mais importantes romances é o ponto de encontro destas obras.

Em o nosso reino, Valter Hugo Mãe conta a história de benjamin, um menino de oito anos que vive em uma pequena aldeia portuguesa durante o regime salazarista, buscando distinguir o bem e o mal em meio à repressão da igreja e aos trágicos acontecimentos que ocorrem a seu redor. Em o remorso de baltazar serapião, relata a desastrada existência dos sargas e as desventuras de seu primogênito, baltazar serapião, tragicamente enamorado por ermesinda, de extrema beleza. Em o apocalipse dos trabalhadores, conta a história de maria da graça e quitéria, duas empregadas domésticas que, apesar do trabalho duro e da rotina opressiva, mantêm as esperanças em uma vida melhor e vivem desventuras amorosas. Já em a máquina de fazer espanhóis, último livro da tetralogia das minúsculas, narra a história de antónio jorge da silva, um barbeiro de 84 anos que, depois de perder a mulher, passa a viver num asilo e se vê obrigado a investigar novas formas de conduzir a vida.

Em sua quinta obra, O filho de mil homens, Mãe volta às maiúsculas e narra a história do pescador Crisóstomo, que aos 40 anos tem uma vontade imensa de ser pai e conhece o órfão Camilo: ao redor dos dois, outros personagens testemunham a construção de uma família em uma aldeia rural, atravessando temas como solidão, preconceitos, vontades reprimidas, amor e compaixão. A obra guarda semelhanças com as memórias e os desejos de Valter Hugo Mãe, que diz já ter sentido o preconceito na pele por ter nascido em Angola. Na escola, relembra ter sido chamado de “preto”, e costuma contar que sua descoberta das pessoas negras se deu num supermercado, quando uma senhora o mandou retornar a sua terra. “Fui para casa e perguntei a minha mãe se as pessoas em Angola eram negras. Ela disse que sim. Perguntei se eu ia ficar negro. Mas minha mãe disse: Não, vais ser sempre assim, amarelinho. Fiquei frustrado. Pensei que, eventualmente, ser negro deveria ser incrível. Eu me olhava e pensava: Uau! E se eu fosse preto?! À noite ninguém iria me ver. Seria o homem-aranha de Paços de Ferreira”, conta o autor em uma de suas entrevistas, em um misto de emoção e divertimento.

Em um de seus mais recentes livros, Valter Hugo Mãe se desafia novamente ao contar uma história sob a perspectiva de uma menina de 11 anos: A desumanização se passa na paisagem inóspita dos fiordes islandeses e narra o que resta a uma jovem depois da morte de sua irmã gêmea. O livro – recentemente publicado na Islândia, alcançando a liderança de vendas no país – resgata a vontade constante de reinvenção, autoimposta pelo escritor: “Sinto que vou de arrasto. Sou a parte menos importante do começo das coisas. Eu só preciso estar atento”, fala o autor sobre seu processo de escrita. E completa: “Eu não pergunto em demasiado para me deixar impressionar pela intuição. A maior parte das minhas coisas começa com pessoas caladas. Observo e depois invento uma vida para aquela pessoa – o sapato, o gesto, como ela se penteia”, explica.

Com uma carreira marcada pela edição literária e por trabalhos na poesia, na crônica, na música, na televisão e nas artes plásticas, Mãe já apresentou um programa de entrevistas num canal português, atuou como vocalista da banda Governo e tem se dedicado esporadicamente ao desenho. Sua obra poética está revista e reunida no volume contabilidade, e escreve ainda a coluna “Casa de Papel”, no jornal Público.

Foto: Rita Rocha
Foto: Rita Rocha

SOBRE OS 10 ANOS DO FRONTEIRAS DO PENSAMENTO

Em uma década, muitos olhares. Em seus dez anos de existência, o Fronteiras do Pensamento realizou mais de 200 conferências internacionais, apresentadas para mais de 170 mil espectadores. Encontros que sempre tiveram como propósito a tradução do nosso mundo e do nosso tempo visando ampliar e diversificar o debate. Alguns dos mais instigantes e representativos intelectuais da atualidade estiveram no palco do Fronteiras, ressaltando a diversidade geográfica, a pluralidade de ideias e a liberdade de expressão em um trabalho que ultrapassou as fronteiras físicas do ciclo de conferências, transformando-se em uma conceituada plataforma de conteúdo, que já gerou 24 filmes de curta e média metragens, mais de 500 vídeos publicados no YouTube, séries de livros e mais de 30 mil fascículos educacionais distribuídos, além de diversas outras publicações que podem ser acessadas no portal www.fronteiras.com. Atualmente, o Fronteirasé realizado em três capitais – São Paulo, Porto Alegre e Salvador. O Fronteiras Braskem do Pensamento Salvador tem o patrocínio da Braskem, apoio da Rede Bahia e Unijorge, com realização da Caderno 2 Produções Artísticas.

SOBRE O FRONTEIRAS BRASKEM DO PENSAMENTO

Presente na capital baiana desde 2008, o Fronteiras Braskem do Pensamento já apresentou mais de 20 conferências internacionais na cidade, com nomes de destaque no cenário contemporâneo. A crítica cultural norte-americana Camile Paglia, o oceanógrafo francês Jean-Michel Cousteau, o jornalista norte-americano Tom Wolfe, o escritor britânico Salman Rushdie e o sociólogo espanhol Manuel Castells foram alguns dos convidados que mantiveram sempre repleta a plateia de um dos mais cultuados palcos do País, o Teatro Castro Alves.

Para marcar os 10 anos do projeto, referência na cena cultural brasileira, o Fronteiras Braskem do Pensamento traz este ano a Salvador o premiado escritor Valter Hugo Mãe para uma conferência especial que aposta na força da literatura como um importante processo de intervenção global e local. O encontro também celebra a primeira visita de Mãe, um dos escritores portugueses mais lidos na atualidade, a um dos berços históricos do Brasil.

O convidado confessa ser um apaixonado pela cultura brasileira, reafirmando em várias entrevistas que “a melhor coisa que os portugueses fizeram foi o Brasil”. Em uma de suas colunas no jornal Público narra um encontro emocionado com Ariano Suassuna: “Alguns homens fazem de todas as horas uma lição de vida. Ao visitar Ariano Suassuna, sei bem, visitei humildemente a alma de um certo Brasil. Que falou comigo. Falou comigo, simplesmente”, poetiza. Mãe protagonizou uma das mais belas e poéticas conferências do projeto na cidade de Porto Alegre em 2015, trechos que podem ser assistidos dentre os vídeos mais acessados do portal www.fronteiras.com, com mais de 20 mil visualizações.

A venda dos ingressos para o Fronteiras Braskem do Pensamento inicia nesta segunda, na bilheteria do Teatro Castro Alves e nos SACs do Shopping Barra e do Shopping Bela Vista, pelo site www.ingressorapido.com.br ou pelo telefone (71) 2626-5071.

FRONTEIRAS BRASKEM DO PENSAMENTO

CONFERÊNCIA ESPECIAL: VALTER HUGO MÃE

DATA E HORÁRIO: 5 setembro I segunda I 20h30

LOCAL: Teatro Castro Alves

INGRESSOS: R$ 60 (inteira), R$ 36 (Clube Correio) e R$ 30 (meia). Vagas limitadas.

INFORMAÇÕES: 4020.2050 e www.fronteiras.com/salvador I facebook.com/FronteirasBA

PONTOS DE VENDA: A partir deste sábado, na bilheteria do Teatro Castro Alves, nos SACs do Shopping Barra e do Shopping Bela Vista, pelo site www.ingressorapido.com.br ou pelo telefone 4003-2051.

Fronteiras do Pensamento Pierre Lévy Foto: Carlos Casaes / AG. BAPress
“Não podemos dominar o software sem dominarmos a leitura anteriormente”, afirma Pierre Lévy no Fronteiras do Pensamento

“Melhor viver a vida com um sentido, do que tentar se resignar que a vida não tem sentido”. Esse foi o conselho dado pelo filósofo francês Pierre Lévy, durante sua conferência no Fronteiras do Pensamento. O evento realizado na noite dessa terça-feira (dia 10), quando lotou a plateia da sala principal do Teatro Castro Alves, em Salvador. “Você não pode aceitar o sentido da vida como é transmitido. Todos nós devemos viver com a certeza da liberdade de sentido”, afirmou o conferencista no evento.

A temporada 2019 do Fronteiras do Pensamento em Salvador, que tem patrocínio da Braskem e do Governo do Estado da Bahia, através do Fazcultura, será encerrada no próximo dia 1º de outubro, com um debate especial entre as escritoras brasileiras Djamila Ribeiro e Lilia Schwarcz, com ingressos já esgotados. No mês de agosto, a capital baiana, por meio da iniciativa, também recebeu o escritor e jornalista cubano Leonardo Padura.

A conferência de Pierre Lévy foi mediada por André Lemos, professor titular do Departamento de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA); e apresentado por Fernando Marinho, músico, ator, diretor teatral e presidente do Conselho Diretor da Aliança Francesa em Salvador.

Pierre Lévy iniciou a conferência afirmando que no final do Século XX, apenas 1% da população mundial estava conectada à Internet. Atualmente este percentual corresponde a 60%. O filósofo prevê que num futuro próximo toda a nossa memória coletiva estará guardada em servidores ou na nuvem. “Todo esse conteúdo será usado através de inteligência artificial para tentar adivinhar os gostos e interesses das pessoas. Tecnologia que já está sendo usada por gigantes como o Google, a Amazon e o Facebook”. De acordo com Lévy, “nós estamos apenas no início dessa transformação da comunicação, que será muito mais extensa e profunda do que temos assistido”, sentenciou o atual professor de Inteligência Coletiva na Universidade de Otttawa.

“Estamos vivendo uma nova era agora que todos os símbolos foram digitalizados, o que nos permite por exemplo, transformar pequenos símbolos em perguntas completas”, exemplificou Lévy, um dos principais pesquisadores das tecnologias da inteligência e investigador das interações entre informação e sociedade.

“É possível utilizar a Internet para enviar fotos do seu café da manhã, para insultar um adversário político, mas você pode usar a Internet para disponibilizar livros digitalmente e coisas positivas. Os jornalistas sublinham as coisas negativas, mas eu gostaria de dizer que a mentira começou muito antes da Internet. Cada vez que você dá um like, compartilhar algo, você ajuda a organizar essa memória coletiva”, afirmou Lévy, ao responder à pergunta da plateia se a Internet deixou o público mais limitado.

Para o filósofo não é a Internet a responsável por essa onda de populismo, lembrando o totalitarismo vivido nos anos 1940, na Alemanha, Rússia e Inglaterra.  “É uma forma de pensamento curta. A responsabilidade é de quem vota e não das Fake News. Devemos ter cuidado com o fato de fazer da mídia técnica, um agente político. Claro que os dados, os algoritmos, não são neutros, já que são uma produção humana”, garante.

Ao ser questionado como enfrentar a dicotomia entre o mundo moderno e o analfabetismo, Lévy afirmou que “não podemos dominar o software sem dominarmos a leitura anteriormente. Não podemos ser seres humanos capazes de compreender dados sem a educação de base. Sabemos que o Brasil tem problemas educacionais, mas não são tão diferentes de outros países”, afirmou Lévy, dando como exemplo dados do analfabetismo funcional no Canadá. “Não devemos proibir que as crianças acessem à Internet e sim, ensiná-las a buscar informações úteis, que possam contribuir para a construção de um pensamento crítico”, aconselhou.

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O quê: Debate especial com Djamila Ribeiro e Lilia Schwarcz, no Fronteiras do Pensamento Salvador

Quando: Terça-feira (1º/10), às 20h30

Onde: Teatro Castro Alves (TCA)

Ingresso: Esgotados

Pierre Lévy - Foto: Luiz Munhoz
Pierre Lévy fala sobre A Construção do Sentido no Fronteiras do Pensamento

“Qual o sentido de buscar um sentido?”. Esse será o questionamento proposto pelo filósofo francês Pierre Lévy durante conferência no Fronteiras do Pensamento, em Salvador. O evento, patrocinado pela Braskem e pelo Governo do Estado da Bahia, através do Fazcultura, acontece nesta terça-feira (dia 10), às 20h30, no Teatro Castro Alves. “Saber se a evolução ou a história humana tem um sentido é uma enorme questão, debatida há séculos pelos filósofos. Hoje, é uma ideia muito combatida. Está muito na moda nos círculos pós-modernos dizer que a história humana não tem sentido, ou que ela tem tantos sentidos possíveis que não é realmente importante determinar qual”, explica.

Pierre Lévy acredita que a questão é se o ser humano, individual ou coletivamente, é consciente dessa evolução. “Existem, em cada época, pessoas que poderíamos talvez chamar de intelectuais, que refletem sobre esse processo e que procuram orientar a evolução de maneira refletida, de maneira racional. Mas, por um lado, é muito raro, é uma pequena elite e é perigoso”, afirma. O perigo, segundo Lévy, é porque os intelectuais em questão podem se enganar. “Podem ser, por exemplo, utopias totalitárias como as que houve com o comunismo, ou com o fascismo, etc. Os grandes ideólogos totalitários quiseram orientar deliberadamente a evolução humana. E na maioria das vezes foi uma catástrofe. Por isso, talvez, não seja tão ruim que não saibamos exatamente em qual direção estamos indo”, sentencia o filósofo, atual professor de Inteligência Coletiva na Universidade de Ottawa.

Lévy é um reconhecido pesquisador das tecnologias da inteligência e investiga as interações entre informação e sociedade. Mestre em História da Ciência e Ph.D. em Comunicação e Sociologia e Ciências da Informação pela Universidade de Sorbonne, é um dos mais importantes defensores do uso do computador, em especial da Internet, para a ampliação e a democratização do conhecimento. Seu foco de estudo se concentrou na área da cibernética e da inteligência artificial. Em 1987, lançou seu primeiro livro, A máquina Universo – Criação, cognição e cultura informática. Também é autor de A inteligência coletiva, O que é virtual? e Cibercultura.

A conferência de Pierre Lévy no Fronteiras do Pensamento terá mediação de André Lemos, professor titular do Departamento de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia; e apresentação de Fernando Marinho, músico, ator, diretor teatral, artista visual e presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado da Bahia (SATED Bahia).

O Fronteiras do Pensamento 2019 trouxe a Salvador no mês de agosto, o escritor e jornalista cubano Leonardo Padura. A temporada deste ano será encerrada no dia 1º de outubro, com um debate especial entre as escritoras brasileiras Djamila Ribeiro e Lilia Schwarcz. Os ingressos estão à venda nas bilheterias do Teatro Castro Alves (TCA), nos SACs dos shoppings Barra e Bela Vista, pelo site www.ingressorapido.com.br. A entrada para cada conferência é comercializada por R$ 50. Outras informações sobre o projeto no portal www.fronteiras.com.

Serviço:

O quê: Conferência de Pierre Lévy, no Fronteiras do Pensamento Salvador

Quando: Terça-feira (10/09), às 20h30

Onde: Teatro Castro Alves (TCA)

Ingresso: R$ 50. A venda nas bilheterias do Teatro Castro Alves, nos SACs dos shoppings Barra e Bela Vista ou pelo site www.ingressorapido.com.br

Lipovetsky e Karnal debatem cidadania e política no Fronteiras Braskem do Pensamento

“A essência da democracia é o reconhecimento ao contraditório. Não há opção à democracia” e “os dirigentes políticos vivem numa bolha, separados da população”. Essas foram algumas das afirmações feitas, respectivamente, pelo historiador e escritor brasileiro Leandro Karnal e pelo filósofo francês Gilles Lipovetsky, durante debate especial do Fronteiras Braskem do PensamentoO evento, que foi aberto pelo violonista flamenco Paulo Victor, lotou o Teatro Castro Alves, na noite dessa segunda-feira (17), em Salvador.

O debate mediado por Fernando Schuler, curador do Fronteiras e doutor em Filosofia Política, foi aberto por Lipovetsky, que abordou o tema Cidadania política, pluralismo e democracia na era hipermoderna, e explicou esse novo conceito. “A hipermodernidade trata-se da chegada de um novo tipo de individualismo e está presente nas famílias, redes sociais, religião, política e espaços públicos”, disse o francês. Ele afirmou, ainda, que vivemos atualmente “uma cidadania a la carte”, que vai de acordo com o menu que a pessoa escolhe de última hora.

“Uma das consequências políticas dessa nova cultura são os votos de rejeição, em detrimento ao voto de adesão a um partido político. Hoje as pessoas votam para se livrar de um governo”. Quando perguntado sobre o que achava do presidente norte-americano Donald Trump e do francês Emmanuel Macron, Lipovetsky sentenciou: “o Donald Trump não honra o sonho americano, já Macron é um filósofo, um homem de medidas. Os dois são exemplos da hipermodernidade atual”.

Já Leandro Karnal intitulou sua participação como Hamlet na casa de noz: cidadania e consciência. Um dos mais populares intelectuais do Brasil explanou que durante muitos anos a felicidade foi centrada na posse, como já enaltecia o escritor inglês William Shakespeare (1564-1616), em seu célebre romance. O doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), Karnal arrancou risos da plateia ao falar sobre a bipolaridade política que vivemos atualmente no Brasil. “Uma parte muito expressiva do país teme que a outra parte consiga degenerar a democracia e as duas profetizam que se o pecado da outra vencer, será o fim do país. Provavelmente ambas as partes estejam corretas”, ironizou Karnal. Para ele “devemos atribuir o sucesso dos livros de autoajuda ao declínio da política brasileira como felicidade”.

Fake News e movimentos indenitários

Autor de livros que já foram traduzidos para mais de 18 idiomas, como os best-sellers como O império do efêmero – A moda e seu destino nas sociedades modernasA era do vazio – Ensaios sobre o individualismo contemporâneo, Gilles Lipovetsky falou que “as pessoas preferem acreditar no que é dito pelos amigos nas redes sociais do que pela mídia, o que acaba gerando as chamadas Fake News”. Seguindo com o mesmo conceito, Karnal ressaltou que a acessibilidade da Internet “tornou milhares de pessoas intelectuais somente ao abrirem uma conta”.

Sobre os movimentos identitários, Gilles acredita que a questão virou um tema central nas sociedades atuais. “A fragmentação pode se tornar um problema no futuro das sociedades, se cada coletividade viver fechada dentro da sua coletividade. Temos de aceitar o multiculturalismo, mas sem que os indivíduos percam suas características de comunitarismo. O direito de o indivíduo ter suas singularidades”, observa. Para o filósofo francês, que esteve pela primeira vez em Salvador, “a educação não é um luxo, mas um investimento para o futuro”. Segundo ele, “nada substitui uma cabeça bem-feita, e uma cabeça bem-feita começa na escola”, concluiu.

No próximo dia 15 de outubro, o físico e escritor carioca Marcelo Gleiser encerra a temporada 2018 do projeto, que tem como tema central O mundo em desacordo. O Fronteiras Braskem do Pensamento Salvador tem o patrocínio da Braskem e do Estado da Bahia, com realização da Caderno 2 Produções Artísticas. Os ingressos para a conferência estão à venda nas bilheterias do Teatro Castro Alves, nos SACs dos shoppings Barra e Bela Vista ou pelo site www.ingressorapido.com.br. O ingresso individual custa R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia).

José Eduardo Agualusa promove discussão sobre literatura e democracia

Defensor da literatura como um espaço para compreensão de si e do outro, o escritor angolano José Eduardo Agualusa abre a programação do Fronteiras Braskem do Pensamento 2018, nesta quarta-feira (1º/08), às 20h30, no palco principal do Teatro Castro Alves (TCA), em Salvador.

“Eu escrevi meu livro justamente tentando compreender o meu país e me compreender dentro daquele país. E até hoje não tenho feito outra coisa do que escrever para compreender, o outro e a mim”, afirma Agualusa, que é um dos mais importantes escritores em língua portuguesa da atualidade.

Um dos finalistas do Prêmio Man Booker em 2016, ele aproveita a história política da Angola como fonte de inspiração para seus livros. Foi assim que ele escreveu seu último romance “A sociedade dos sonhadores involuntários”, lançado em 2017, uma sátira política sobre o movimento de resistência promovido por jovens em seu país.

Dentro desta perspectiva de fazer a literatura dialogar com a democracia, Agualusa propõe nesta quarta, 1º, uma discussão sobre A leitura como utopia – literatura, democracia e justiça social, o caso angolano. O tema converge com a proposta de discussão do Fronteiras Braskem do Pensamento deste ano, que tem como objetivo fomentar um debate sobre O mundo em desacordo – Democracia e guerras culturais. Para isso, o projeto vai trazer nas próximas edições conferências com alguns dos grandes pensadores contemporâneos. Na programação estão o filósofo francês Gilles Lipovetsky e o historiador e escritor brasileiro Leandro Karnal (ambos no dia 17/09), além do físico teórico, professor e escritor brasileiro Marcelo Gleiser (15/10).

Fronteiras Braskem do Pensamento Salvador tem o patrocínio da Braskem e do Estado da Bahia. Com realização da Caderno 2 Produções Artísticas, esta edição do projeto será apresentada pela jornalista Adriana Couto, apresentadora do programa Metrópolis, da TV Cultura.

Os ingressos para o evento estão à venda nas bilheterias do Teatro Castro Alves (TCA), nos SACs dos shoppings Barra e Bela Vista e pelo site www.ingressorapido.com.br. O ingresso individual por conferência custa R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia). Contudo, é possível adquirir até esta quarta, 1º, o combo para as três conferências por R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia). Já o combo de ingressos para duas conferências fica R$ 70 inteira e R$ 35 (meia), válido até 17 de setembro. Outras informações sobre o projeto no portal www.fronteiras.com.

Sobre o Fronteiras Braskem do Pensamento

Fronteiras Braskem do Pensamento é um ciclo de conferências alinhado ao projeto cultural múltiplo Fronteiras do Pensamento – www.fronteiras.com – que aposta na liberdade de expressão intelectual e na educação de qualidade como ferramentas para o desenvolvimento. O Fronteiras do Pensamento realiza anualmente edições em Porto Alegre e São Paulo, e na edição especial em Salvador abre espaço para o debate e a análise da contemporaneidade e das perspectivas para o futuro, apresentando pensadores, artistas, cientistas e líderes que são vanguardistas em suas áreas de pesquisa e pensamento. Os valores básicos do projeto são o pluralismo das abordagens, o rigor acadêmico e intelectual de seus convidados e a interdisciplinaridade de ideias. Por isso o Fronteiras Braskem do Pensamento já trouxe a Bahia importantes nomes como Enrique Peñalosa, Leymah Gbowee, Wim Wenders, Edgar Morin, Manuel Castells, Contardo Calligaris, Luc Ferry, Salman Rushdie, Jean-Michel Cousteau, Valter Hugo Mãe, Mia Couto, Camille Paglia e Graça Machel, entre outros.
 
Serviço:
O quê: FRONTEIRAS BRASKEM DO PENSAMENTO SALVADOR 2018
CONFERÊNCIASJosé Eduardo Agualusa, 1º/08; Debate Especial Gilles Lipovetsky e Leandro Karnal, 17/9; Marcelo Gleiser, 15/10.
LOCAL E HORÁRIO: Teatro Castro Alves, às 20h30.
INGRESSOS: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia) para cada uma das conferências.
LOTE 1: COMBO DE INGRESSOS PARA AS TRÊS CONFERÊNCIAS: R$100 (inteira) e R$50 (meia), valido até o dia 1º de agosto.
LOTE 2: COMBO DE INGRESSOS PARA DUAS CONFERÊNCIAS: R$70 (inteira) e R$35 (meia), valido até o dia 17 de setembro.
INFORMAÇÕES SOBRE VENDAS: 3003-0595
PONTOS DE VENDA: Nas bilheterias do Teatro Castro Alves, nos postos de vendas do SAC dos shoppings Barra e Bela Vista, e pelo site www.ingressorapido.com.br.
INFORMAÇÕES PROJETO: Na Central de Relacionamento Fronteiras 4020.2050 e no portal www.fronteiras.com.

Foto: AG. BAPress
“Acredito na transformação social”, afirma Graça Machel durante conferência de encerramento do Fronteiras Braskem do Pensamento 2017

“É possível tornar a vida mais digna, tornando as relações mais humanas”, “a cultura liberta as pessoas” e “acredito na transformação social”. Essas foram algumas das declarações feitas pela ativista dos direitos humanos moçambicana Graça Machel, durante a conferência que encerrou, na noite dessa terça-feira (05/09), no palco principal do Teatro Castro Alves, em Salvador, a temporada 2017 do Fronteiras Braskem do Pensamento. Com o tema Civilização – A sociedade e seus valores, o projeto tem o patrocínio da Braskem e do Governo da Bahia, através do Fazcultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, com realização da Caderno 2 Produções Artísticas.

Em frente a uma plateia atenta, a ex-ministra da Educação de Moçambique e desde 2010 gestora do fundo internacional que leva seu nome, Graça Machel falou sobre a onda de imigração, direitos humanos, diferença entre gêneros, racismo e exploração infantil. A conferência foi apresentada pelo doutor em Filosofia, Eduardo Wolf, curador-assistente do Fronteiras do Pensamento e com a mediação de Zulu Araújo, diretor da Fundação Pedro Calmon. Durante sua conferência, Graça assegurou que “o Brasil é um exemplo de integração de imigrantes”.

Ela questionou porque hoje em dia o fenômeno da imigração é visto com medo. “As imigrações fazem parte da experiência humana ao longo dos séculos e até de milênios, faz parte do DNA social”, afirmou a ativista. Para Graça, a desigualdade econômica é um fenômeno motivador das imigrações. “Atualmente existem presidentes que acham que podem construir muros para separar pessoas. É preciso algumas vozes mais esclarecidas para atentar que o islã é uma religião de paz. Existem alguns indivíduos que são terroristas, mas precisamos não generalizar”, adverte.

Formada em Filologia da Língua Alemã pela Universidade de Lisboa, Machel atuou como professora e lutou clandestinamente com a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) durante a Luta Armada da Libertação Nacional. “Hoje somos uma África que temos marcas do coronelismo. Não somos um continente homogêneo. Temos duas mil línguas em África. A Nigéria sozinha tem 500 línguas. Apesar das várias colonizações conseguimos preservar muito de nossa tradição. Não somos nem franceses ou ingleses, somos africanos”, garante. Graça alerta que a globalização, com todas as vantagens que trouxe, também deixou muitas marcas da pobreza. “A grande maioria do nosso povo, nas zonas rurais africanas, tem muito pouco de globalização”.

Ligada desde muito cedo a organizações sociais para a manutenção dos direitos de mulheres e crianças, Graça Machel não chegou a conhecer o próprio pai, que morreu três semanas antes do seu nascimento. Filha mais nova de uma família de origem humilde, cresceu e acompanhou o empenho e o esforço de sua mãe para criar sozinha os setes filhos. Em 2010, a ativista fundou a Graça Machel Trust, organização de direito com foco na saúde e na nutrição de crianças, na educação, no empoderamento econômico e financeiro das mulheres, e no desenvolvimento de estratégias de governança e liderança femininas na África. “A única diferença que existe realmente entre o homem e a mulher é o gênero, mas fizeram o homem crer que pode matar as mulheres”, lamenta a conferencista.

Outras duas grandes causas levantadas por Graça Machel são o trabalho em favor das vítimas de casamentos infantis e o combate a quaisquer tipos de racismo. “A realidade é que pessoas de pele negra em qualquer continente lutam para sobreviver. Precisamos fazer uma introspecção para saber que tipo de pessoa nos tornamos”, provoca Graça. “Hoje a família humana tem dois grandes desafios, aceitar que homens e mulheres e pretos e brancos são iguais. Não há nada que nos diferencie”, garante. Ao finalizar sua fala, provocou a plateia questionando “o que podemos fazer para desmantelar esses mitos?”.

SOBRE O FRONTEIRAS BRASKEM DO PENSAMENTO
Fronteiras Braskem do Pensamento é um ciclo de conferências alinhado ao projeto cultural múltiplo Fronteiras do Pensamento – www.fronteiras.com – que aposta na liberdade de expressão intelectual e na educação de qualidade como ferramentas para o desenvolvimento. O Fronteiras do Pensamento realiza anualmente edições em Porto Alegre e São Paulo, e na edição especial em Salvador abre espaço para o debate e a análise da contemporaneidade e das perspectivas para o futuro, apresentando pensadores, artistas, cientistas e líderes que são vanguardistas em suas áreas de pesquisa e pensamento.

Os valores básicos do projeto são o pluralismo das abordagens, o rigor acadêmico e intelectual de seus convidados e a interdisciplinaridade de ideias. Por isso o Fronteiras Braskem do Pensamento já trouxe à Bahia importantes nomes como Enrique Peñalosa, Leymah Gbowee, Wim Wenders, Edgar Morin, Manuel Castells, Contardo Calligaris, Luc Ferry, Salman Rushdie, Jean-Michel Cousteau e Valter Hugo Mãe, entre outros. Na temporada 2017, além de Graça Machel, o Fronteiras Braskem do Pensamento trouxe à capital baiana, o escritor moçambicano Mia Couto e a crítica cultural norte-americana Camille Paglia.

Arte e feminismo: Camille Paglia fala no Fronteiras Braskem do Pensamento

Polêmica crítica cultural norte-americana realiza conferência no dia 15 de agosto no Teatro Castro Alves

Foto: Divulgação

 
Uma pensadora de seu tempo, que discorre sobre as incongruências do feminismo, a sexualidade, a política, a religião, a estética e a cultura pop, entre tantos outros assuntos, sem evitar a contradição. Assim é Camille Paglia, conhecida pelas obras Personas sexuais e Sexo, arte e cultura americana. Mas no livro mais recente lançado no Brasil a intelectual retorna aos seus estudos de origem: em Imagens cintilantes, destaca a história das artes plásticas a partir de 29 obras representativas de estilos e contextos sociais, do túmulo da Rainha Nefertari do Egito ao cinema norte-americano de George Lucas. Na obra, Camille afirma, com certa decepção, que os jovens trocaram a pintura e a escultura pela tecnologia e o design industrial, gerando consequências. “O olho sofre com anúncios piscando na rede. Para se defender, o cérebro fecha avenidas inteiras de observação e intuição. A experiência digital é chamada interativa, mas o que eu vejo como professora é uma crescente passividade dos jovens, bombardeados com os estímulos caóticos de seus aparelhos digitais. Pior: eles se tornam tão dependentes da comunicação textual e do correio eletrônico que estão perdendo a linguagem do corpo.” A conferência ocorre no dia 15 de agosto, às 20h30, no Teatro Castro Alves, Campo Grande. Vendas: www.ingressorapido.com.br. Informações no site www.fronteiras.com/salvador ou pelo fone 4020-2050.
Formada pela Universidade de Yale com Ph.D. em língua inglesa pela mesma instituição, Camille Paglia é uma das intelectuais mais influentes da atualidade e a principal teórica do pós-feminismo. Desde 1984, é professora de Humanidades e Estudos Midiáticos na Universidade de Artes da Filadélfia. Seu método acadêmico é erudito, comparativo e descritivo, e seus ensaios alcançam grande repercussão midiática. É o caso de Imagens cintilantes, no qual Camille poetiza para depois provocar: “a arte é o casamento do ideal e do real. Fazer arte é um ramo da artesania. Artistas são artesãos, mais próximos dos carpinteiros e dos soldadores do que dos intelectuais e dos acadêmicos, com sua retórica inflacionada e autorreferencial. A arte usa os sentidos e a eles fala. Funda-se no mundo físico tangível”. E, nesta era reconhecida pela pensadora como “de vertigem”, torna-se necessário reaprender a ver e, segundo Camille, encontrar um foco. “As crianças, sobretudo, merecem ser salvas deste turbilhão de imagens tremeluzentes que as vicia em distrações sedutoras e fazem a realidade social, com seus deveres e preocupações éticas, parecer estúpida e fútil. A única maneira de ensinar o foco é oferecer aos olhos oportunidades de percepção estável – e o melhor caminho para isso é a contemplação da arte”, afirma a crítica, que questiona também o sistema de educação artística. “Da pré-escola em diante, a arte é tratada como uma prática terapêutica – projetos com cartolina do tipo ‘faça você mesmo’ e pinturas com os dedos para liberar a criatividade oculta das crianças. Mas o que de fato faz falta é um quadro histórico de conhecimentos objetivos acerca da arte”, analisa. “Sem conhecimento a cultura se perde, e a imaginação começa a faltar”, completa.
A importância de Camille Paglia no universo intelectual caracteriza-se também pela quebra de paradigmas – apesar da formação clássica, valoriza a cultura popular e massiva no ambiente acadêmico – e por uma relação tênue entre vida pública e privada, ao assumir-se, ainda na universidade, como homossexual, sofrendo preconceito de colegas e professores. Nascida em Endicott, vila no condado de Broome, Nova York, Camille é filha de imigrantes italianos e cresceu em uma casa de fazenda com seu pai, veterano da Segunda Guerra Mundial e professor, que incentivou o crescimento da filha em um ambiente livre e de apoio à cultura e às artes. Casada por mais de uma década com a artista Alison Maddex, de quem Camille adotou legalmente o filho após sua separação, não é adepta da ideia de que a criança possui “duas mães”, reconhecendo-se como uma parente próxima de seu filho, alguém que possui influência em sua criação. Reconhecendo-se como uma dissidente do movimento feminista das décadas de 60 e 70, Camille também é voz polêmica ao comentar o casamento gay. “Eu apoio a união civil, mas nunca apoiei o casamento gay. Não acho que o governo deve se envolver em casamento, um termo circunscrito à Igreja. Perante a lei, deve haver igualdade de gêneros e orientações sexuais. Mas deve haver mais respeito por religião. Se você quer se casar, vá a uma igreja que aceite casá-lo. Mas a insistência de que o governo deve intervir neste sentido é muito juvenil”, provoca.
A pensadora analisa também, de forma crua, a atual luta social das mulheres. “Acredito que um feminismo forte deve basear-se no respeito pelo homem, admiração pelo que alcançaram através da história. Esse retrato dos homens como sendo opressores é uma calúnia grosseira. Houve homens criminosos? Sim, certamente, mas os homens deram sua vida, através da história, pelas mulheres e pelas crianças. As mulheres precisam se responsabilizar por suas vidas e parar de culpar os homens por seus problemas, que têm mais a ver com questões e estruturas sociais e não são fruto de uma conspiração masculina”, afirma. E completa: “A infelicidade que muitas mulheres sentem hoje resulta em parte da incerteza delas sobre quem são e sobre o que querem nesta sociedade materialista, voltada para o status, que espera que a mulher se comporte como homem e ainda seja capaz de amar como mulher. Quando eu vou a Nova York, vejo essas mulheres nas ruas: bem cuidadas, lindas, bem-sucedidas, graduadas em Harvard, Yale e… tediosas! Te-di-o-sas. Não têm nenhuma mística erótica. Acho que o número de homens gays vem aumentando porque os homens são mais interessantes do que as mulheres”, polemiza.
Para a intelectual, estamos em uma fase tardia da cultura, em que as definições dos sexos começam a se dissolver e surgem todos os tipos de trocas de papéis entre o feminino e o masculino. “Eu adoro tudo isso, mas acho que não pode ser confundido com um sintoma de saúde e de progresso. É um sintoma de declínio histórico da nossa cultura. Eu não noto, a propósito, nenhum avanço no campo das artes. Pelo contrário, todos estão obcecados consigo próprios. O ego se tornou um trabalho artístico. Acho que a obsessão com gênero e com orientação sexual se tornou uma doença”, sentencia. E opina sobre os recentes levantes feministas como a Marcha das Vadias, comparando-o com a atitude de uma figura que é frequente em suas análises: “Madonna expunha seu corpo ao mesmo tempo em que assumia a responsabilidade de se defender. Você tem o direito de se vestir como Madonna nas ruas às 3h da manhã e faz parte do comportamento da mulher liberada fazer isso. Só que essa mulher tem que saber se defender. Se você é uma mulher livre, você tem que aceitar que, toda vez que se vestir de modo convidativo, está enviando uma mensagem. E é claro que ninguém tem o direito de fazer nada com você, mas só uma idiota acha que vai para as ruas de vestimentas provocativas sem correr o risco de ser atacada, culpando o Estado por isso”, finaliza. Neste ano Paglia lançou sua mais recente obra, Free women, free men – Sex, gender, feminism, ainda sem publicação no Brasil.
Camille Paglia já esteve em Salvador, em 2008, realizando a conferência Variedades do erótico na arte do século XX. No projeto Fronteiras do Pensamento também esteve em São Paulo, em 2015, com a conferência Arte, cultura e feminismo, e em Porto Alegre, em 2007, com a fala A mulher na arte: da idade da pedra até Hollywood. Resumos das conferências e entrevistas exclusivas disponíveis no portal www.fronteiras.com.
 
SOBRE O FRONTEIRAS BRASKEM DO PENSAMENTO
Fronteiras Braskem do Pensamento é um ciclo de conferências alinhado ao projeto cultural múltiplo Fronteiras do Pensamento – www.fronteiras.com – que aposta na liberdade de expressão intelectual e na educação de qualidade como ferramentas para o desenvolvimento. O Fronteiras do Pensamento realiza anualmente edições em Porto Alegre e São Paulo, e na edição especial em Salvador abre espaço para o debate e a análise da contemporaneidade e das perspectivas para o futuro, apresentando pensadores, artistas, cientistas e líderes que são vanguardistas em suas áreas de pesquisa e pensamento. Os valores básicos do projeto são o pluralismo das abordagens, o rigor acadêmico e intelectual de seus convidados e a interdisciplinaridade de ideias. Por isso o Fronteiras Braskem do Pensamento já trouxe à Bahia importantes nomes como Enrique Peñalosa, Leymah Gbowee, Wim Wenders, Edgar Morin, Manuel Castells, Contardo Calligaris, Luc Ferry, Salman Rushdie, Jean-Michel Cousteau e Valter Hugo Mãe, entre outros.
O  tem o patrocínio da Braskem e do Governo da Bahia, através do Fazcultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura do estado, com realização da Caderno 2 Produções Artísticas.
 
SERVIÇO FRONTEIRAS BRASKEM DO PENSAMENTO SALVADOR 2017
DATAS E HORÁRIO: Ocorrem mais dois encontros – 15/8 e 5/9, sempre às 20h30.
LOCAL: Teatro Castro Alves (Praça Dois de Julho, s/nº – Salvador/BA).
INGRESSOS: Ingresso individual por conferência: R$ 50,00 (inteira) e R$ 25,00 (meia).
COMO COMPRAR: Pelo site www.ingressorapido.com.br, na bilheteria do Teatro Castro Alves e nos postos de vendas do SAC, nos shoppings Barra e Bela Vista. Informações sobre vendas pelo fone 3003-0595.
INFORMAÇÕES SOBRE O FRONTEIRAS BRASKEM DO PENSAMENTO: Na Central de Relacionamento Fronteiras pelo fone 4020.2050 e no portal www.fronteiras.com/salvador