“Que mundo deixaremos para nossas crianças?”, questionou Luc Ferry, durante sua conferência no Fronteiras Braskem do Pensamento
As duas eras do Humanismo: do ideal democrático à revolução do amor. Esse foi o tema da conferência do filósofo francês Luc Ferry, no Fronteiras Braskem do Pensamento, que lotou a sala principal do Teatro Castro Alves, na noite dessa quarta-feira (dia 16/09), em Salvador. Defensor do Humanismo Secular – visão de mundo que se contrapõe à religião e coloca a razão crítica no lugar da fé – Ferry afirma que no mundo ocidental vivemos um dilema em torno do que é “o sagrado”. “O sagrado é tudo aquilo pelo que podemos nos sacrificar”, explicou.
Morremos em guerras pela religião, pela pátria e pelas grandes revoluções. São grandes sacrifícios da humanidade: Deus, a pátria e a revolução. Atualmente, esses ideias não são mais motivos de sacrifícios”, explica. O filosofo propôs que a plateia se perguntasse “por quem cada um estaria pronto para morrer?”. Ou seja, o que seria considerado como sagrado para cada um dos presentes. Para ele, o sagrado está encarnado atualmente na humanidade, nas pessoas. “A grande questão política da atualidade é que mundo deixaremos para nossas crianças?”, questionou o conferencista.
O evento foi apresentado por Fernando Marinho, músico, ator, diretor teatral e presidente do Conselho de Administração da Aliança Francesa de Salvador. A conferência teve ainda como debatedor, Genildo Ferreira da Silva, professor de Filosofia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Entre o público presente estavam acadêmicos, políticos, empresários, profissionais liberais e estudiosos do assunto. No próximo dia 1º de outubro, o psicanalista italiano Contardo Calligaris encerra a temporada 2015 do Fronteiras Braskem do Pensamento, em Salvador.
Além da conferência, o público foi presenteado com a apresentação de alguns instrumentistas da Orquestra Plástica do NEOJIBA a qual utiliza instrumentos sinfônicos fabricados com plástico PVC, construídos pelo próprio projeto que desenvolve e difunde uma tecnologia social inovadora, que capacita jovens de Salvador e do interior da Bahia para produzirem seus próprios instrumentos a partir dos cano de PVC.
Revolução do Amor
Reconhecido mundialmente por propagar uma filosofia menos preocupada com discussões eruditas, Ferry explicou as razões dos casamentos na idade média. “Nos casávamos por três razões: para transmitir o nome, o patrimônio (ao filho mais velho) e para termos filhos, criando braços para o trabalho nas fazendas, mas nunca por amor”. O casamento servia para reconciliar famílias e unir fortunas. Assim era com os príncipes e princesas para unir países e conquistar territórios. O matrimônio era uma associação civil, o amor não tinha o seu lugar naquela época. “Como não existia casamento por amor, não havia ciúmes”, ressaltou.
Foto: Ulisses Dumas / Ag. BAPress
De acordo com o intelectual, que foi ministro da Juventude, Educação Nacional e Pesquisa da França no governo de Jacques Chirac (entre 2002 e 2004), o capitalismo moderno inventou o casamento por amor, ao inventar o mercado de trabalho, o mundo industrial, o salário, as grandes cidades, além do individualismo, conceito criado no final dos anos 30. Ferry explicou que naquela época, as jovens camponesas ao saírem de suas cidadezinhas criaram três grandes liberdades, o individualismo, o estado laico e a autonomia financeira. Foi assim que surgiu o casamento por amor, na Europa do século XIX.
Atualmente, nas grandes cidades do ocidente, 60% dos casamentos estabelecidos por amor terminam, em média, até o sétimo ano de relacionamento. Na sua visão, a partir do casamento por amor, da paixão amorosa, surge o divórcio e se não houvesse os filhos o índice de separações seria de 95%. Quando nos casamos por amor esse sentimento é transmitido para as crianças. “Na idade média, a expectativa de vida era, em média, de 18 anos, e os casamentos duravam seis anos, o que era uma eternidade na época. Hoje, uma eternidade é uma eternidade mesmo. Atualmente o casamento por amor exige um enorme engajamento. As mulheres casam com um príncipe encantado e três anos depois elas têm um marido apenas” afirmou, arrancando gargalhadas da plateia.
PRÓXIMA CONFERÊNCIA
CONTARDO CALLIGARIS (Itália, 1948)
01/10 – quinta
Psicanalista e cronista italiano, Contardo Calligaris é doutor em psicologia clínica pela Universidade de Provence e iniciou seus estudos nas áreas das letras e da filosofia. Em 1975, foi aceito como membro da Escola Freudiana de Paris, onde morou até 1989. Lecionou na Universidade Paris 8 e teve aulas com os filósofos franceses Roland Barthes e Michel Foucault, além de acompanhar os seminários ministrados pelo psicanalista francês Jacques Lacan, uma grande influência em sua formação.
Em 1985, veio ao Brasil para o lançamento de seu primeiro livro de psicanálise, Hipótese sobre o fantasma. Posteriormente, acabou fixando residência no País, onde reside até hoje. Suas reflexões se concentram na condição humana da sociedade marcada pela obrigatoriedade da felicidade, do gozo, da beleza e dos excessos. Estudioso das questões da adolescência, considera esta a etapa da vida que possui uma intensa carga cultural e que se caracteriza como uma das mais potentes fontes de energia da atualidade. A adolescência é um dos seus livros mais lidos e estudados.
Além de atender nos seus consultórios em São Paulo e Nova York, é colunista do caderno Ilustrada da Folha de S. Paulo, no qual escreve sobre psicanálise e cultura. Publicou mais de dez livros, incluindo dois romances e uma peça teatral. Criou a série de televisão intitulada Psi, exibida no canal a cabo HBO. Foi professor de estudos culturais na New School de Nova York e professor convidado de antropologia médica na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Também faz parte do corpo docente do Institute for the Study of Violence, em Boston.
Contardo Calligaris, em seu trabalho, conduz as pessoas à reflexão sobre a existência humana, contribuindo para amenizar as angústias provocadas pelos desafios contemporâneos e pelo confronto com o outro, que pode limitar os prazeres e contradizer as certezas e seguranças.
SOBRE O FRONTEIRAS DO PENSAMENTO
O Fronteiras do Pensamento é um projeto cultural múltiplo que propõe uma profunda análise da contemporaneidade e das perspectivas para o futuro. Comprometido com a liberdade de expressão, a diversidade de ideias e a educação de alta qualidade, promove conferências internacionais e desenvolve diferentes conteúdos que apresentam os mais renomados pensadores, artistas, cientistas e líderes em seus campos de atuação.
Temas, ideias e personalidades que moldam o nosso tempo ocupam o palco do Fronteiras, que tem como valores básicos o pluralismo das abordagens e o rigor acadêmico e intelectual de seus convidados. Dessa forma, o seminário internacional busca avaliar tendências, aceitando a provocação destes que são, hoje, alguns dos mais renomados pensadores em atuação no mundo, constituindo uma linha interdisciplinar de pensamento.
Em seus nove anos de existência, o Fronteiras do Pensamento conta com mais de duas centenas de conferências internacionais realizadas para milhares de espectadores, servindo como plataforma para a geração de filmes de curta e média metragens, séries de livros e fascículos educacionais, além de diversas outras publicações nas diferentes áreas contempladas.
O conhecimento e as ideias também estão acessíveis ao grande público através do portal www.fronteiras.com, que oferece centenas de vídeos – com legendas em português, espanhol e inglês –, além de artigos, notícias e entrevistas para refletir, comentar e compartilhar.
SOBRE A EDIÇÃO SALVADOR
Num mundo cada vez mais urbano e conectado, nosso destino é viver juntos. Essa nova forma efêmera e fluida de sociabilidade torna a vida um aprendizado de tolerância e cooperação. Para debater a urgência da cooperação e da convivência nos diversos âmbitos do conhecimento, a já tradicional série especial do Fronteiras Braskem do Pensamento traz a Salvador em 2015, para o palco do Teatro Castro Alves, três grandes nomes do cenário contemporâneo: o sociólogo espanhol Manuel Castells, no mês de maio; o filósofo francês Luc Ferry, em setembro; e o psicanalista italiano Contardo Calligaris, em outubro.
A urbanização e a tecnologia colocaram, em um mesmo ambiente, uma diversidade de ideias e culturas sem precedentes na história da humanidade. Atitudes, desejos, questionamentos e posicionamentos políticos e religiosos distintos precisam conviver em um único espaço. Como viver juntos? Este é o tema proposto pelo Fronteiras Braskem do Pensamento em Salvador, tema pelo qual a capital baiana é nacionalmente conhecida.
Viver juntos não é alcançar a homogeneização cultural, tampouco a neutralidade de ações e reflexões. Viver juntos é aprender a conviver com a diferença em termos raciais, étnicos, religiosos, políticos ou econômicos. Este é o desafio mais urgente da atualidade. Viver juntos é nosso destino.
O Fronteiras Braskem do Pensamento Salvador tem o patrocínio da Braskem e do Governo da Bahia, através do Fazcultura, e Secretarias de Cultura e da Fazenda com realização da Telos Cultural e Caderno 2 Produções.
“O Fronteiras Braskem do Pensamento é um evento singular em Salvador. É muito gratificante para a Braskem poder proporcionar ao público baiano a oportunidade de compartilhar o conhecimento de grandes pensadores contemporâneos, fomentando a reflexão e o debate sobre temas relevantes para a sociedade. Esta é uma forma de contribuirmos para a construção de consciência e para o desenvolvimento humano”, destaca Hélio Tourinho, diretor de Relações Institucionais da Braskem na Bahia.
FRONTEIRAS BRASKEM DO PENSAMENTOSALVADOR 2015
PRÓXIMA CONFERÊNCIA: CONTARDO CALLIGARIS, 01/10 – INGRESSOS ESGOTADOS
LOCAL E HORÁRIO: Teatro Castro Alves, às 20h30.
INFORMAÇÕES: 4020.2050 e salvador@fronteiras.com